Associação de Capoeira Memória do Mestre Canjiquinha, Mestre Cal
Manhumirim - MG
A criança que pratica Capoeira aprende não apenas a jogar como também a
cantar (o que tem sido transmitido oralmente há séculos, cantos
africanos especialmente criados para esse tipo de atividade) e a tocar
(entre os instrumentos mais tradicionais, destaque para o berimbau, o
pandeiro e o caxixi, um chocalho feito de sementes). O jogo de Capoeira
também aprimora o controle emocional, estimulando a observação e a
defesa, quando necessária, ao contrário de incentivar a agressividade e a
violência. "No caso do
estilo
Angola de Capoeira, ele consegue traduzir com ritmo e movimento
corporal as ideias da educação humanista", reforça Ana Cristina Marotto,
orientadora educacional e pedagógica do Colégio Equipe, em São Paulo.
"É ótima ferramenta para a formação moral, física e cognitiva."
Recomendado para alunos de 3 a 11 anos, o jogo de Capoeira ajuda de
inúmeras maneiras o desenvolvimento tanto de meninos quanto de meninas.
Veja os benefícios a seguir.
A Capoeira é um jogo que faz clara distinção entre defesa e ataque -
diferenciação essa que pode influenciar um estilo de comportamento e um
modo de pensar por toda a vida. Quem pratica Capoeira não é, portanto,
estimulado a sair atacando para depois ver no que vai dar, mas sim
olhar, refletir e, se for realmente necessário, saber agir de modo a
cuidar da própria defesa. Quanto mais cedo a criança souber fazer essa
distinção, mais rápido será o seu entendimento de como a violência não
vale a pena.
A aula de Capoeira normalmente começa com uma roda de conversa, onde são
discutidas as regras de convívio e de participação de cada um etc. É
uma atividade que desenvolve o respeito, a tolerância. Porque as
crianças estão sempre interagindo entre si para realizar o mais simples
gesto - cada uma delas precisa, por exemplo, ter cuidado com o movimento
que pretende fazer para não machucar o outro, assim como conviver com o
jeito de ser de cada colega, entendendo que o jogo acontece entre
todos, independentemente do talento ou da ausência dele. Todos são
iguais - e, em lugar de apontar os melhores (e os piores) jogadores, o
que se incentiva é a parceria, ensinar o que já sabe de modo a que o
colega possa evoluir também.
Quem pratica Capoeira recebe informação sobre a cultura popular, a
origem do jogo em si, as tradições celebradas em músicas e canções, os
instrumentos que animam a atividade e por aí afora. É um conhecimento
transmitido a cada roda de conversa, no início da aula, aumentando o
repertório dos alunos sobre a formação do povo brasileiro, enfim, a
história do próprio País. Não se trata de um tipo de informação feito
para decorar, mas sim atiçar o interesse da criança pela nossa
identidade cultural.
Quem pratica Capoeira tem sua percepção sonora estimulada pelo uso de
instrumentos musicais, assim como a consciência do próprio corpo é
alimentada por movimentos pouco usuais. Trata-se de uma atividade que
abre um leque de oportunidades - meninas e meninos podem descobrir, ao
jogar Capoeira, o gosto por danças populares, outros, por canto, todos
eles indo atrás de cursos específicos. Em suma: um despertar de
aptidões, fonte valiosa de conhecimento e amor próprio.
O jogo de Capoeira explora dois caminhos antagônicos, o equilíbrio e o
desequilíbrio - como é que se leva um tombo e depois se recupera o prumo
-, situações essas de valor semelhante, afinal, o desequilíbrio também
pode afetar e desestruturar emocionalmente, daí ser preciso assumir
estratégias para recuperar o equilíbrio e seguir no jogo. Tudo isso diz
respeito aos golpes típicos da Capoeira - entre eles, a ginga, o rabo de
arraia, a meia lua e a estrela. Movimentos que exigem equilíbrio e
tônus muscular, trabalhando com as pernas, os braços, o tronco, a
cintura etc. O aluno precisa ganhar elasticidade, equilíbrio e
autoconfiança para se lançar no espaço sem medo de se esborrachar no
chão. É desse modo que as crianças aprendem a reconhecer os limites do
corpo, adquirindo segurança sobre o próprio desempenho.
Mexer com o corpo significa lidar com algumas das nossas emoções mais
primitivas - a agressividade, por exemplo. É verdade que o jogo da
Capoeira expõe cada aluno perante o grupo, mas ele também consegue
reforçar o controle sobre situações delicadas, caso de ficar
envergonhado por não fazer direito uma estrela, não ter ritmo para
gingar etc. Como? Aulas de Capoeira valorizam o potencial de cada um, o
que já conquistou e sabe fazer bem - afinal, todas as crianças têm
competências garantidas e outras, a serem desenvolvidas. Ou ainda: todas
têm capacidades para aprender e desenvolver, cada um em seu tempo de
aprendizado que deve ser respeitado.
Na aula de Capoeira, a criança é insistentemente estimulada a dançar,
jogar, tocar e cantar. Não há, portanto, espaço para timidez - e ela
entende que terá de se expor ao grupo com todas as suas imperfeições.
Aos poucos, o medo ou qualquer outro tipo de insegurança perde a força,
até porque essa criança se sente cada vez mais à vontade no universo
dominado pelo respeito, como é o da Capoeira.